Que eu sou 012 todo mundo já sabe, até porque eu não me canso de falar e de me orgulhar do lugar de onde eu vim. E hoje eu estou aqui mais uma vez pra mostrar como nois é foda de verdade. Diretamente do Vale do Paraíba os meninos do InterRaps chegaram surpreendendo até quem já admirava o trabalho deles, e eu to falando do lançamento do álbum “Outro Plano“, que aconteceu no último dia 14.
Desde que os meninos se formaram como um grupo em 2015 o potencial deles ficou claro, e esse CD veio pra consolidar toda essa aposta. As 12 faixas disponibilizadas nas plataformas digitais mostram uma maturidade artística bonita de se ver. Acredito que existem duas formas de mostrar essa maturidade: escolhendo uma linha estilística única e trabalhando com ela em uma harmonia perfeita, como já mostrado em trampos do Vale neste ano; e lidando com versatilidade e mantendo o nível e a qualidade em cada faixa ainda que se tratem de propostas diferentes, o que é o caso dos meninos.
“Outro Plano” foi inteiro produzido pelo Amandes, integrante do grupo juntamente com o Matheus, e essa versatilidade faz parte de um processo de aprendizado e é algo que sustenta o grupo ideologicamente: “A ideia de trazer versatilidade pro trabalho parte da filosofia de grupo que a gente tem, nós sempre pensamos que temos que ter som pra toda ocasião, pra todas as áreas do mercado e todo tipo de fã, por isso essa versatilidade que marcou esse trabalho”, explica Amandes.
E mesmo com toda essa versatilidade, o sentimento não é como se os meninos tivessem juntados sons aleatórios para formar um CD, existe uma harmonia e o Matheus sintetizou isso bem:
— O da hora é que por mais que as faixas sejam bem versáteis, tanto em entonação de voz, como escrita e principalmente o beat, elas acabam se interligando. As primeiras 5 faixas do disco vem em um tom mais pancada, como a ‘Hino’, ’11 pm in downton’, ‘Amigo das Notas’ em participação com LK — também mc do vale, que em setembro lança seu primeiro disco solo. Já na faixa 6 a gente deixa uma faixa separativa que é a Interlúdio, um momento foda do disco e dali em diante, são faixas com muitas ideias, muito bem dialogadas e escritas. Então é um disco com degradê pro ouvinte.
Essa linearidade é foda, como se uma história estivesse sendo contada, muito por causa da produção única também. Sempre me intriga quando um disco todo é produzido por único beatmaker, ainda mais quando ele é o mc, quis saber de como foi a produção das bases e como isso influencia o processo de escrita e o Amandes me contou:
— Então parça, a parada dos beats foi uma parada muito cabulosa, eu produzi todos os beats em mais ou menos duas semanas, tava bem inspirado e motivado pra trabalhar nesse projeto. Basicamente eu uni minhas referências, o que a gente achava necessário ter e o que achamos que o mercado atual pede. Eu sempre fui de ouvir muito boombap, mas depois que comecei a estudar a produção de Trap senti muito mais liberdade pra produzir e basicamente ouço trap 24 horas por dia, é a nossa maior referência musical hoje. Eu particularmente gosto muito dos meus beats, um dos fatores de eu ter produzido tudo é porque eu poderia manter a qualidade de ponta a ponta, fazer um disco linear onde eu pré mixaria tudo da minha maneira. Também me dá mais liberdade pra fazer as variações que eu acho necessário pra desenvolver minha escrita.
E os cara não são um grupo a toa né? As letras parecem ter sido delimitadas por tema, e parecem também ter sido escritas pelos dois juntos, mas no fim era só conexão forte mesmo, o Matheus explicou:
— Pode parecer que não, mas nossas letras acabam sendo bastante individuais, mas quando se juntam parece que a gente escreveu ali junto, na mesma hora, mas não. O que eu acho mais da hora nesse disco e que faixa nenhuma a gente sugeriu um tema ou falou ‘mano vamo escrever sobre isso, ou sobre aquilo’, foi disposição pra unir duas mentes com a mesma sintonia pra compor em cima do beat. Mas existem faixas como a ‘Brisa’ que eu escrevi em uma hora na casa do Tiago só ouvindo o beat e a gente pensando juntos, e o refrão da ‘Amigo das Notas’ foi um refrão pensado juntos que a gente chapou no beat e sincronizou a melodia.
E desde que as coisas começaram pra eles como grupo foi assim. Os dois tem contato com o rap desde criança, mas, como a maioria, tiveram a vida distante do rap por um tempo pra lidar com outras obrigações. Até que em 2015 o Amandes convidou o Matheus pra integrar o InterRaps que já existia desde 2014, mas que passava por transformações. Desde então os meninos lançaram alguns singles, um EP e agora esse álbum.
E daqui pra frente os planos são dignos da qualidade desse trampo: “Posso dizer que esse foi o nosso melhor trabalho até hoje lançado na rua, e acho que posso dizer por nós que o que a gente mais espera é que esse trabalho chegue ao máximo de pessoas possíveis, aonde for, ao máximo de ouvidos que possam escutar e entender que “Outro Plano” e InterRaps é um legado, é história. E claro, viver do que a gente ama, viver dessa arte”, sintetizou Matheus.
Escuta essa belezura
Lista de músicas
- Novas Regras (Intro)
- Hino
- Amigo das Notas pt. LK – O Marroquino
- P.M. In Downtown
- A Maldição do Rap pt. Menestrel
- Interlúdio
- Wess Wess
- 4 Folhas
- Segredo
- A Peste
- Brisa
- Preciso Voltar